Sábado, 21/09/2024, 14:30

Conexões que transformam: pequeno atleta de parabadminton que possui agenesia no braço esquerdo se inspira em jovem com a mesma deficiência

Benício e Yuki se conheceram durante treinos da modalidade no Sesi, em Presidente Prudente (SP).

Por: Nathalia Salvato, Portal CBN Prudente
Benício Henn da Silva Blaia, de cinco anos, se inspira no atleta de parabadminton Yuki Rodrigues |

Benício Henn da Silva Blaia, de cinco anos, se inspira no atleta de parabadminton Yuki Rodrigues | Foto: Arquivo pessoal

Aos cinco anos de idade, Benício Henn da Silva Blaia encontrou no parabadminton, além da alegria que o esporte pode proporcionar, uma conexão que transformou sua perspectiva sobre si mesmo logo no início da vida.

O pequeno nasceu com uma agenesia no braço esquerdo, condição caracterizada pela ausência completa ou parcial de um órgão ou estrutura do corpo. No caso do Benício, ele não possui o antebraço e a mão esquerdos.

Há pouco mais de um ano, ele teve o primeiro contato com a equipe de atletas do Serviço Social da Indústria (Sesi), no Parque Furquim, em Presidente Prudente (SP), que ocorreu por meio da apresentação de uma treinadora. O pequeno se interessou pelo parabadminton e, em março deste ano, começou a treinar a modalidade.

O momento foi o pontapé inicial de uma fase que marcaria Benício para além do conhecimento sobre o esporte. Isso porque foi durante os treinos que ele conheceu Yuki, paratleta, de 22 anos, que possui a mesma condição do pequeno.

“No ano de 2023, a gente esteve no Sesi e foi onde a gente conheceu a Mayara. Ela nos mostrou toda a equipe dela de atleta e, nisso, o pessoal começou a brincar com o Benício, e ele gostou. Aí a Mayara o convidou para poder fazer parte da equipe. Ele começou a treinar em março deste ano, quando conheceu o Yuki”, explica a mãe de Benício, Carina da Silva.

Pai de Benício à esquerda com o filho mais novo, de 4 anos, no colo, a mãe das crianças ao meio, o atleta Yuki com Benício no colo e a treinadora Mayara ao lado direito | Foto: Arquivo pessoal

Carina descreve que o filho tem uma admiração singular por Yuki.

“O Yuki é a paixão da vida dele, onde ele se inspirou e se inspira até hoje. A paixão dele é por conta do Yuki ter o braço igual a ele e ele ter um pouco de convívio com uma pessoa maior que tem a mesma genética que ele tem”, afirma Carina.

Ainda segundo a mãe, Benício se identificou com o parabadminton, principalmente, porque conheceu nos treinos pessoas que possuem características semelhantes às dele.

“Foi o esporte que eu acho que ele gostou por conta de ter outras pessoas, ter outros atletas iguais a ele e, por ele, ele fala que treina todos os dias”, diz ela.

O paratleta em quem Benício se inspira, Yuki Rodrigues, já conquistou diversas premiações no parabadminton. Para o competidor, o esporte é sua vida.

“O esporte é a minha vida, literalmente. Eu vivo do esporte, eu procuro refúgio no esporte. Eu sou campeão pan-americano. Tenho nacional. Já participei de algumas competições internacionais, e participei do mundial esse ano, na Tailândia”, conta Rodrigues.

Yuki Rodrigues na disputa do Campeonato Brasileiro de Parabadminton, no Centro Paralímpico, em São Paulo (SP) | Foto: Arquivo pessoal

Ainda segundo Yuki, ser uma inspiração para o pequeno Benício representa responsabilidade e lhe desperta sentimentos muito especiais.

“Contribuir para o Benício é sensacional. Passar tudo o que eu sei, tornar a vida dele um pouco mais fácil, em aprender as coisas. É bom ter uma referência, né? Alguém que a gente se inspira. O Benício se espelha em mim, então, tudo o que eu for fazer, ele vai querer fazer, então, cara, é uma responsabilidade e tanto. Mas é maravilhoso saber que tem uma criança que se espelha em você e ela te vê como um ídolo, um herói, e o Benício, amo demais ele”, diz Yuki.

A vivência ainda traz à memória de Yuki amizades que o marcaram por, justamente, o inspirar. Pessoas que o fizeram reconhecer o grau de importância de ter alguém como referência.

“Na minha história, eu tive alguém que me inspirou. O Eduardo [Oliveira]. Ele me inspirou muito a ser uma boa pessoa, um atleta exemplo. Ele foi minha dupla em 2022 e 2023, a gente jogou junto no mundial, a gente encerrou o ciclo ali no mundial. Eu me inspirava muito nele e, hoje, alguém se inspira em mim”, conta o paratleta.

Foi a treinadora de Yuki quem apresentou o esporte à família de Benício. Mayara Bacarin Bressanin é colaboradora do Sesi desde 2013. Para ela, contribuir com o desenvolvimento de crianças e adolescentes é uma missão muito importante.

“Para mim, é muito importante fazer parte do processo de desenvolvimento das crianças. Eu sempre falo que é fundamental a gente desenvolver o ser humano como um todo. Então, ter a oportunidade de, através das aulas de parabadminton, a gente formar o cidadão, é muito legal, porque não é só o esporte pelo esporte, é o esporte pela vida. A gente sabe que através do esporte a gente pode contribuir com o desenvolvimento, com a formação, com a formação de caráter, de ideais, isso é muito importante. Então, eu me sinto muito realizada de poder fazer esse processo”, afirma a técnica.

Em 2023, Yuki e Mayara foram convocados para compor a seleção brasileira em uma competição internacional | Foto: Arquivo pessoal

Para Mayara, mais importante do que o pequeno alcançar um lugar de destaque no esporte, é a oportunidade que Benício está tendo de conviver com Yuki e o ter como referência, até mesmo por conta do conhecimento acerca de suas limitações e possibilidades, dentro e fora de quadra.

“Se um dia ele [Benício] puder chegar onde o Yuki está, vai ser muito legal e muito satisfatório, com certeza. Mas mais do que isso, a gente saber que apresentar para uma criança hoje uma pessoa igual a ela, que consegue fazer tudo, é muito legal. O Yuki não teve isso quando criança, mas o Benício está tendo a oportunidade de ter”, menciona a treinadora.

Ainda de acordo com ela, os limites devem surgir a partir das descobertas pessoais de cada pessoa, e não ser incutidos por terceiros.

“Ninguém dá limite para uma criança, para um adolescente, para um adulto ou para uma pessoa com deficiência. Quem tem que se dar esse limite, dizer que 'posso' ou 'não posso' é a própria pessoa”, afirma Mayara.

Benício também espera ser um campeão quando for mais velho, mas, por enquanto, crescer treinando e convivendo com Yuki já tem sido muito especial.

“Eu gosto de treinar e ficar perto do Yuki. [Eu gosto do Yuki] porque ele gosta de mim. [Ele é] fofinho e legal. Quero ser um atleta igual o Yuki”, afirma Benício.

Benício Henn da Silva Blaia, de cinco anos de idade, tem o atleta Yuki Rodrigues como sua principal referência | Foto: Arquivo pessoal

CBN Presidente Prudente

 

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