Quarta-feira, 12/03/2025, 19:36

O que esperar de 'Vitória', filme estrelado por Fernanda Montenegro e baseado em uma história real

Longa de Andrucha Waddington que estreia nesta quinta (13) conta o caso de uma idosa que desmantelou esquema de tráfico e corrupção da polícia ao filmar os crimes de sua janela.

Por: CBN Brasil
Fernanda Montenegro (Dona Nina) e Alan Rocha (Flávio Godoy) no filme 'Vitória' |

Fernanda Montenegro (Dona Nina) e Alan Rocha (Flávio Godoy) no filme 'Vitória' | Foto: Reprodução

"Então vocês não querem fazer nada? Vão para o diabo!", diz dona Nina na reunião do prédio depois de passar mais uma noite sem dormir por conta dos tiros insistentes do lado de fora. Aos 80 anos, ela caminha com certa dificuldade pelas ruas do Rio de Janeiro e parece totalmente vulnerável frente aos fuzis que observa de sua janela, não ganha muito como massoterapeuta e mora sozinha, sem ninguém para protegê-la, mas decide agir mesmo assim para acabar com a violência no bairro. É um papel para Fernanda Montenegro.

Conforme informações divulgadas pela CBN Brasil, após o ciclo do Oscar que rendeu um estatueta a "Ainda Estou Aqui" e indicação de Melhor Atriz a Fernanda Torres, todos os olhos estão em quem foi indicada ao prêmio pela primeira vez: a mãe, Fernanda Montenegro, aos 95 anos. Dona Fernanda interpreta dona Joana, que no filme é chamada de Josefina (ou Nina). Posteriormente, tanto a personagem quanto a mulher que a inspirou são rebatizadas como Vitória.

No longa "Vitória", de Andrucha Waddington, a atriz vem com uma energia que faz jus à que deve ter sido de dona Joana, com toda a coragem, irreverência, e humor agudo. Ao final do filme, vemos uma imagem da Vitória da vida real, e a história ganha ainda mais peso por dona Joana ter sido uma mulher negra.

O filme, que estreia nesta quinta-feira (13) nos cinemas brasileiros, tem quase duas horas de duração e é inspirado em uma história verdadeira, contada no livro "Dona Vitória Joana da Paz", de Fábio Gusmão (no filme, Flávio Godoy), publicado em 2024. A idosa arriscou sua vida e conseguiu desmontar um esquema de tráfico com envolvimento de policiais que acontecia em frente ao seu apartamento, ao filmar as ações de sua janela -- vale destacar que, em 2005, não era coisa fácil obter um equipamento de filmagem. A história de Joana Zeferino da Paz, que teve de mudar de nome ao entrar para o Programa de Proteção à Testemunha, foi revelada pela primeira vez em 2005 pelo jornalista, e ganhou muita repercussão na época.

O filme conta ainda com Alan Rocha como o jornalista Fábio Gusmão -- ele interpretou outro jornalista no vencedor do Oscar "Ainda Estou Aqui", na emblemática cena em que Eunice Paiva diz a seus filhos que devem sorrir para a foto. No longa, o ator e músico tem papel-chave como um repórter policial atento e racional, mas que se comove com a história de coragem da idosa que conhece em uma delegacia, e rompe as tradicionais barreiras de distanciamento entre fonte e jornalista ao arriscar sua vida por ela. O expectador também verá um bela amizade entre dona Nina e Bibiana, personagem de Linn da Quebrada, e o menino Marcinho, interpretado por Thawan Lucas.

"Vitória" tem distribuição da Sony Pictures e é uma produção da Conspiração com a coprodução do Globoplay e MyMama Entertainment, com apoio da Globo Filmes.

Fernanda Montenegro e Thawan Lucas contracenam no filme "Vitória". — Foto: Reprodução
Fernanda Montenegro e Thawan Lucas contracenam no filme 'Vitória' | Foto: Reprodução
Bibiana (Linn da Quebrada) e Dona Nina (Fernanda Montenegro) no filme "Vitória". — Foto: Reprodução
Bibiana (Linn da Quebrada) e Dona Nina (Fernanda Montenegro) no filme 'Vitória' |Foto: Reprodução

Por que Vitória foi interpretada por uma mulher branca?

Uma questão complexa envolvendo o filme é o fato de Joana da Paz ter sido um mulher negra, mas representada nas telonas por uma mulher branca. O filme começou a ser rodado enquanto Joana ainda estava viva, e por isso a produção precisou escolher uma atriz com características físicas diferentes para que a idosa, jurada de morte, não pudesse ser reconhecida.

Foi feita então uma inversão: Joana interpretada por Fernanda Montenegro, atriz branca, e Fábio Gusmão, um homem branco, interpretado por Alan Rocha, ator negro. Em entrevista ao Fantástico, Gusmão afirma que Joana era "apaixonada" por Fernanda Montenegro e dizia que ela era "uma atriz maravilhosa".

No entanto, dona Joana faleceu em 2023, aos 97 anos, após as filmagens. Só então sua identidade foi revelada ao público.

Livro "Dona Vitória Joana da Paz", de Fábio Gusmão, deu origem ao filme com Fernanda Montenegro. Na capa, a Vitória da vida real: Dona Joana. — Foto: Reprodução
Livro "Dona Vitória Joana da Paz", de Fábio Gusmão, deu origem ao filme. Na capa, a Vitória da vida real: Dona Joana | Foto: Reprodução

Em entrevista à CBN, Alan Rocha defendeu que o filme homenageia pessoas que já se foram e também o jornalista Fábio Gusmão em vida. O ator destacou o fato de, por conta da inversão, ter a oportunidade de interpretar o jornalista:

"É um filme que abraça e homenageia muitas pessoas que já se foram e pessoas que ainda que fazem parte dessa história. É claro que abriu-se um parênteses por conta da questão da proteção da dona Vitória. Mas abriu-se a oportunidade de eu, como ator negro, estar interpretando um personagem branco. E é muito legal quando o Fábio Gusmão diz que ele conseguiu se ver através de mim. Nós temos características diferentes e ele diz que eu captei a essência e tudo que ele viveu e sentiu nessa época com a dona Joana. Fico muito feliz de poder ter tido essa resposta do Fábio."

Morte do diretor original, Covid-19: os percalços de 'Vitória'

Cineasta Breno Silveira — Foto: TV Globo
Cineasta Breno Silveira | Foto: TV Globo

A produção do filme passou por um momento de grande tristeza em 2022, com a morte aos 58 anos do diretor original, Breno Silveira, de "Dois Filhos de Francisco". A roteirista de "Vitória" e viúva do cineasta, Paula Fiuza, disse ao Fantástico que Silveira conheceu Joana, e que o marido era apaixonado pela história dela, e que tentou finalizar o filme como uma forma de mantê-lo vivo.

Após a morte do cineasta, Paula Fiuza pediu ao diretor Andrucha Waddington, grande amigo de Silveira e marido de Fernanda Torres, que assumisse o filme, que havia sido interrompido em um estágio inicial.

Alan Rocha disse à CBN que foi escolhido para o papel junto a Fernanda Montenegro após a morte de Silveira e fala sobre outras dificuldades para o nascimento do filme, como a pandemia de Covid-19:

"Esse filme, além de toda a questão da coragem, da força, da resiliência dessa mulher, teve uma história muito triste na vida de todos da equipe, principalmente o Andrucha e a Paula, que é a roteirista, e, claro, os amigos do Breno, quando ele faleceu nos primeiros dias de filmagem. E depois a gente passou por alguns momentos de problemas de saúde, teve a questão da pandemia, aí a dona Fernanda também pegou covid, enfim, depois a gente voltou... Então era um filme que precisava nascer, a gente estava nessa expectativa."

CBN Presidente Prudente

 

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