José Amando Vanucci é jornalista e especialista em televisão | Foto: Redes sociais
O novo filme sobre Fórmula 1 lançado no começo desta semana deixou o esporte ainda mais em destaque, em especial a relação entre os meios de comunicação e a categoria. No Brasil, o narrador Luciano do Valle, que completaria 78 anos nesta sexta-feira (4), foi um dos grandes precursores e um dos nomes mais marcantes da narração da categoria no país.
Para falar sobre a relação entre a televisão, as transmissões esportivas, em especial de automobilismo, e o legado de Luciano do Valle, o quadro Estrelas do Esporte do programa Vitrine CBN conversou com exclusividade com o jornalista especialista em televisão e um dos autores do livro “Biografia da TV Brasileira” José Armando Vanucci.
Segundo Vanucci, a forma emocionante que Luciano narrava as corridas é um dos fatores responsáveis pela popularização do esporte no final da década de 70 no Brasil.
“Isso estabelece o que a partir da década de 70, início dos anos 80, vira febre nacional. Eu assisti a pouco tempo a série do Senna, você vê que tem muita emoção, o quanto o brasileiro se envolve, vem daí, vem deste momento. Desta narração que se estabelece o que é a importância de você avançar, ultrapassar um carro, narrar uma ultrapassagem, é fantástico. É uma narração que em nenhum momento sobrepõe a imagem, isso é o interessante, porque até em então, antes, você tinha a narração da Fórmula 1, que tinha que ser muito precisa, porque era só rádio, quando o Luciano entra na TV e começa a narrar isso, ele não invalida a imagem, ele complementa a imagem e isso estabelece o que vamos ter depois, a partir dali”, esclarece José Armando.
Ainda de acordo com o especialista, a emoção transmitida por Luciano e também por narradores como Galvão Bueno tornou-se um padrão para os atuais narradores.
“A grande herança deles é a emoção, esse estilo muito brasileiro de narrar, esse estilo passional, digamos assim. Você vai em outros países, os narradores são mais neutros, no Brasil não, o Luciano, o Galvão, mostraram assim: ‘Nós somos brasileiros, estamos torcendo’. Vibra muito mais quando o brasileiro está indo bem, esse é um grande legado. E a agilidade, de ter a narração, chamar o comentarista, conversar no ar, isto é muito interessante. [...]. Se for pensar friamente, não mudou muito de lá para cá, se estabeleceu um gênero de narrar e as novas gerações seguiram muito isso”, opina Vanucci.
Além da Fórmula 1, o jornalista ainda destaca o papel de Luciano na promoção de outros esportes por meio das transmissões esportivas.
“É muito fácil ficar na paixão do brasileiro, que era o futebol e não arriscar em outras coisas e precisava muito disso, no livro a gente também mostra a importância do leque que se abre para os outros esportes. Todas as federações de esportes brasileiros precisam honrar eternamente o Luciano do Valle, porque ele começou a mostrar outros esportes, tudo isso era muito restrito, não era tão popular e com ele no esporte que foi abrindo isso, trazendo outros esportes para a gente. Isso foi muito importante, a gente precisava mostrar isso no livro, de que o que a gente tem hoje é muito por trabalhos, óbvio as personalidades que estão narrando, mas muito desse trabalho dos bastidores. Na televisão o esporte a partir do trabalho do Luciano de ampliar de mostrar esse leque maior de possibilidades virou um grande negócio”, analisa o autor de “Biografia da TV Brasileira”.